Dia desses passei uma manhã no colégio do Carlos Henrique. Tomada pelo tédio, comecei a ler os trabalhinhos das crianças nas paredes. Em uma sala de quarta série, um trabalho em especial me chamou a atenção: as crianças deveriam fazer um desenho delas mesmas e listar seus maiores defeitos e suas maiores qualidades. Com toda a sinceridade peculiar da infância, eles se retrataram de uma maneira impressionante. E chocante. Nem me lembro mais de tudo o que escreveram, mas a gordura ganhou disparada como o defeito nº 1. Não importa se eles são brabos, mimados, egoístas ou se vão se tornar adultos desonestos, hipócritas, ambiciosos e fúteis.
Na cabeça destas crianças, tudo é tolerável- menos a gordura. E a professora nem se deu ao trabalho de dizer que estava errado.
Isso é reflexo dessa nossa sociedade imbecil que dá mais valor ás aparências do que ao conteúdo, de tudo e de todos. Essas meninas que vemos nas portas de colégio hoje em dia parecem fabricadas em série, todas com chapinha no cabelo e bota por cima da calça legging. Nada contra, também me atiro na vaidade de vez em quando. Mas será que é só isso que importa? Vale gastar 500 reais em um jeans e 400 em uma bota? Isso compra a felicidade?
Existem pessoas que são incapazes de manter um diálogo mediano, só sabem falar de academia, roupas e seres do sexo oposto. Passam a semana inteira levantando peso para poder usar um decote no final de semana que as transforme em meros objetos sexuais. E ás vezes as criaturas são tão mal resolvidas que não são capazes de apreciar os prazeres do sexo. Apesar de lerem na Nova as 874 maneiras de enlouquecer seu homem na cama e de depilarem o ânus com cera quente, são frígidas. Na cama e na vida. Não têm prazer em nada além de se olhar no espelho. Nunca leram um livro e só assistem aos filmes da Tela Quente. Não têm metas nem objetivos na vida. Seu objetivo é enfeitar o mundo. E já não estou falando de meninas púberes e sim de mulheres (?) feitas. Eu não quero enfeitar o mundo. Quero construir o mundo, conhecer o mundo, retratar o mundo.
Nessa fogueira das vaidades, vamos ver quem vai se queimar. Esse culto à beleza e às celebridades é que torna meninos em ladrões, que só assim podem conquistar o tênis Nike que aparece na TV. É essa mania de aparecer que leva meninas ás páginas das revistas masculinas antes do que aos bancos de uma universidade.
É uma pena, mas é assim que as coisas funcionam. Não estou aqui fazendo uma apologia á gordura, nem uma ode à feiura. Mas, por favor, vamos valorizar as conquistas intelectuais da garotada. Não só a bunda. Senão, vou ser obrigada a gritar qualquer hora: PÁRA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!
MEU MAIOR DEFEITO? Intolerância com gente burra
MINHA MAIOR QUALIDADE? Paciência, senão já teria espancado essas tipas!
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